quinta-feira, 22 de março de 2007

ESTRANHA LOJA DE DOCES

Sempre sofria por vontades inusitadas, a moça.
Certa noite, teve um desejo furioso de tomar uma bebida forte, destilada, que tivesse gosto de livro velho. Não qualquer coisa, mas literatura boa de verdade. Um livro que sempre quisesse ter lido e descobrisse, por acaso, no fundo de um armário de esquecidos.
Depois, quis mudar o perfume. Havia lido, fascinada, sobre a existência de uma loja obscura em Londres, onde eram vendidos perfumes de bolo de aniversário, funerária, lagosta, vestido de noiva de avó. Mas ela teve uma idéia diferente: Imaginou o cheiro de um filme do Fellini. Talvez de lua no poço. Lua no fundo do poço no fundo do quintal. Sim! Era esse o perfume que ela queria.
E as roupas? Onde encontrar um vestido de espelhos, sapatos de vento, lingerie líquida? Sem falar no casaco tecido com fios de cabelo de pequenos anjos caídos.
Mas o pior eram as fomes. E acordando de madrugada quis comer alguma coisa como um luminoso de néon de posto de gasolina. Sendo assim, pegou o carro e saiu procurando.
Passou por um posto como o desejado e sentiu-se parcialmente satisfeita. Logo adiante, havia uma estranha loja de doces. Entrou.
-Já experimentou nossa novidade, o dessert doré?- perguntou a vendedora.
A moça viu um doce amarelo pálido, coberto com um merengue poroso, quase como claras em neve.
-Não, o que é?
-É uma receita nova, feita com margaridas e neblina de começo de primavera.
Ela comprou e comeu. Não gostou muito. Mas já estava acostumada. Afinal, sempre sofria por vontades inusitadas, a moça.

por GRETA BENITEZ

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