quarta-feira, 21 de março de 2007

O EXTRATERRESTRE

Após anos de namoro e noivado, Eduardo e Josefa casaram-se. Nutriam intensa paixão um pelo outro. As juras de amor e fidelidade multiplicavam-se a cada oportunidade. Ela era psicóloga e montara pequena clínica pediátrica. Ele se diplomou em direito e dividia escritório com um colega de turma. Entre altos e baixos, na média as coisas estavam bem. Até pequena poupança se arrumava na Caixa Econômica Estadual. Ainda não completado um ano de casados, contrataram financiamento para aquisição da casa própria. Tudo era felicidade; inclusive, a situação econômica acenava para uma gravidez sem percalços. Mas eis que uma tragédia se abate sobre o casal. Numa noite chuvosa, retornando do trabalho, o ônibus em que viajava derrapou e despencou de uma ribanceira, estatelando-se sobre montes de pedras Vários passageiros ficaram gravemente feridos. Eduardo fraturou o pescoço. Ficou tetraplégico. Foram meses de sofrimento. Um seguro providencial, aliado à atividade de Josefa, manteve certa regularidade econômica no lar. Mas e os sonhos? Alguns se realizavam, outros se transformaram em utopia, como, por exemplo, o filho ansiado. Seis meses se passaram após o infortúnio. Certa noite, Josefa chega em casa espavorida, fazendo relato fantástico ao marido, este que muito mal movia a cabeça. Seus olhos indicavam a perplexidade com o que ouvira da esposa. Contou-lhe Josefa que seu carro saiu da estrada geral, rumando em direção à Lagoa de Iriry, um local ermo, após lançarem sobre ele forte facho de luz amarela, vermelha e lilás. Dois seres esverdeados levaram-na para dentro de uma enorme nave, estacionada entre a lagoa e o mar, a cerca de quatro metros de altura. Não reagiu; parecia hipnotizada. Tiraram sua roupa e a colocaram sobre uma espécie de maca, logo perdendo os sentidos. Em diante, não viu mais nada. Ao despertar dentro do carro, agora vestida, verificou que passara mais de quatro horas em poder dos extraterrestres. "Fantástico!"- Foi o que disse Eduardo, sem nada acrescentar, lançando os olhos para o alto, pensando sabe-se lá em quê. Dois meses depois, Josefa aproximou-se de Eduardo meio chorosa, dizendo-lhe estar grávida. "Foram eles, Eduardo, tenho certeza! E agora?" Eduardo olhou dentro dos olhos de Josefa e respondeu: "Seria bom se tivéssemos um filho marciano, jupiteriano, mercuriano, sei lá de onde. Não acha?" Josefa, olhos marejados, fungando, perguntou-lhe se falava sério; respondeu que nunca falara tão sério. Oito meses depois, nascia um guri. Ao ser apresentado a Eduardo, este disse: "É bonito. Seu olhar é parecido com o dos extraterrestres vistos nos filmes." Não fossem as limitações físicas de Eduardo, seria um casal muito feliz. Ou protagonista da manchete mais sangrenta do ano.

ANTONIO KLEBER MATHIAS NETTO

2 comentários:

Anônimo disse...

SEM DUVIDA UM CORNO/

Anônimo disse...

Um corno itergalacticon